quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Desabafo de uma dona:

- Os minutos tomam lugar dos segundos e o tic-tac daquele meu relógio verde, se faz cada vez mais alto e forte. Vou partir. Mas levarei junto meu velho relógio empoeirado. Meu companheiro nas horas de insônia e o único barulho predominante no meu quarto por 24 horas. Em dias tão triste quando queria solidão, ele brigava comigo e não escutava quando pedia silencio. Implorava, mas ele não obedecia. Ele nunca me abandonou, nem quando eu esquecia a janela aberta e o maldoso vento o retirava do lugar e sacudia-o no chão. Nunca rachou, nunca quebrou. Só às vezes por excesso de uso eu tinha que trocar a bateria, mas coisa boba. Sempre tive esperança, graças a ele, que aquela velha frase "nada na vida está completamente errado e até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes ao dia" fosse verídica. Arrumando minhas coisas, jogando minhas roupas na mala, rasgando medíocres papéis de anúncios coloridos que eu colecionava na infância, eu sempre olhava pr'aquela parede branca onde era sua estadia. Ele não estava mais lá. Um curto desespero até voltar em si e lembrar que ele é tão importante que foi a primeira coisa que lembrei de levar na mudança.

Desabafo de um relógio:
- Sou verde-cheguei, custei R$ 14,99 e caio muito bem em planos brancos com algumas marcas de pés na parede. Tenho dona. Atraso-a e adianto-a às vezes também. Não deixo ela sozinha nem quando ela pede, nem quando ela insiste, nem quando ela esquece de mim e olha a hora nos minúsculos números de um celular.

Percebeu? Muita sintonia entre mim e o meu relógio.
"É que eu sou dona do meu tempo."

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